12 de agosto de 2012

Londres - Alison e Emanuel passo a passo


Alison e Emanuel eram uma medalha de ouro dada como certa, que mania essa nossa de escolher nossas medalhas e colocar a responsabilidade nas mãos daqueles que irão brigar por elas. Era a quinta Olimpíada de Emanuel, ele já tinha 2 medalhas: uma de ouro e uma de bronze, já tinha virado estátua, memorável, histórico e mais do que isso: reconhecido mundialmente. 

O brasileiro, salvo aqueles que acompanham o vôlei de praia( nem todos que assistem o vôlei indoor conhecem os atletas de praia), não sabem a importância que um cara como o Emanuel tem para o esporte, não desconfiam da paixão e do profissionalismo com que ele lida com o "ofício" que escolheu para si. Sim, meu amigo, o trabalho dele é o vôlei de praia, ele cresceu ali junto com o esporte, viu o país descobrir a praia e se tornar uma potência mundial, ganhou tudo o que foi possível nesta trajetória, formou com outro gigante, Ricardo, uma das mais fantásticas duplas de vôlei de praia já vistas no mundo e nem por isso ele parou. 

Emanuel sonha sempre um pouco mais, se redescobre, se reinventa e corre atrás, planeja PACIENTEMENTE cada meta a ser batida até o objetivo final. 

Depois de Pequim a notícia do final da dupla com Ricardo seria motivo de grande reviravolta no cenário do vôlei de praia masculino do Brasil, Emanuel escolheu Alison, não sei o que ele disse ao Mamute, mas qualquer jovem atleta não recusaria a oportunidade de jogar ao lado e Alison, considerado um menino não bobeou em aceitar. 

A primeira temporada dos dois foi intermediária, não foi ruim, mas também não foi brilhante. O que se via era um crescimento gradativo, passo a passo, sem pressa. Talvez a paciência tenha sido a grande virtude da dupla, souberam trabalhar, Emanuel sempre declarava em suas entrevistas que não havia segredo, só trabalho, muito trabalho. 

Alison se tornou um gigante: monstruoso no bloqueio, forte no ataque e cada vez mais consciente e humilde, sem esquecer de trabalhador, sempre trabalhador. Foi Rei da Praia 2 vezes e ganhou quase tudo o que podia ao lado do ídolo Emanuel, faltava o ouro olímpico. 




Como eu disse no início deste texto, a gente acreditava no ouro, nada os impediria, só esquecemos que a magia dos jogos olímpicos é exatamente o fato de ninguém ser favorito, ou melhor, os favoritos caem, os pequenos se engrandecem, quem estava quase morto renasce, não existe jogo perdido, ponto esquecido, tudo tem chance de ser diferente. 

...e quis o destino que naquele dia os alemãs fossem melhores do que os nossos. Alison/ Emanuel tentaram, lutaram até o fim e como a prata dói. É história? Sim, sem dúvida. Mesmo assim foram sensacionais. Parabéns! 


Para o Rio 2016 não se sabe o que será, mas a depoimento emocionado do Alison resume o ciclo olímpico da dupla: 

" Eu aprendi que quando você acha que não dá, dá. Que quando você acorda dolorido porque a sua parte física aumentou e você acha que não pra ir mais, dá. Quando você acha que o jogo está perdido, não está perdido. Eu aprendi que a idade não é limite. Aprendi que realmente prum time ser campeão você tem que gostar de jogar junto e a gente gosta de jogar junto, tem uma relação muito forte. Aprendi que você tem que confiar na pessoa. Eu aprendo todos os dias. Essa Olimpíada eu vou carregar pro resto da minha vida porque eu sei que a gente tentou de tudo, perder faz parte do esporte e é por isso que a gente tá tão emocionado. A gente queria muito ganhar, não passamos por cima de ninguém, conquistamos o nosso espaço. Esse cara confiou em mim a 3 anos atrás, eu devo muito a ele, por tudo o que ele me deu e vem me dando todos os dias, como parceiro, como amigo, como irmão, Se eu pudesse, emprestar 3 anos pra ele, eu emprestaria, para mais um ciclo no Rio de Janeiro, mas isso cabe a ele decidir e independente da decisão que ele tomar eu estarei do lado dele." Alison ( Terra TV)


É muito gostoso ver o Emanuel se preocupando com o futuro do vôlei de praia, com o exemplo que irá deixar, para o Alison ele já ensinou, para quem quiser ver o exemplo está aí, tomara que o país aproveite.

Um comentário:

Adriano Berger disse...

É com esse tipo de depoimento apaixonante do Alison e com essa lição de comprometimento para com um objetivo que criei a alguns anos atrás o blog "O Esporte e o mundo dos negócios", para mostrar que na vida profissional e empresarial tiramos lição de vitórias, empates e derrotas do mundo dos esportes.

Essa dupla não perdeu a final por negligeciar a capacidade do adversário, mas porque o adversário foi de fato superior no momento certo. E até nisso tiramos lições sem tirar o mérito do derrotado.

Parabéns por mais esse excelente texto, Rafa!