20 de junho de 2009

Muricy, 12/2006 - 06/2009

Acho que esta coluna disse exatamente o que eu sinto sobre a saída do Muricy: é uma mistura de agradecimento, dúvida e certeza de que era o momento.


por Mauro Beting, no Lancenet

Campeão do Brasil em 2006 com um elenco que já havia vencido quase tudo em 2005. Bicampeão brasileiro como raros na história nacional. Único tri nacional, em fantástica recuperação no returno. E tudo isso mesmo longe de ser unanimidade, mesmo sem ter um elenco como o de Telê Santana, um de seus mestres. Mesmo perdendo de goleada a semifinal do SP-07, em casa; mesmo perdendo outra semifinal para rival, em 2008. Repetindo a dose com duas derrotas em 2009 para outro figadal rival, quando tinha um elenco melhor, maior e mais entrosado para encarar a temporada.

Não falo da Libertadores perdida para o Inter, em 2006. Da precoce eliminação em 2007 para o futuro vice Grêmio. Para a derrota na última bola para o futuro vice Fluminense, em 2008. E das duas derrotas para o forte Cruzeiro, em 2009, depois de uma primeira fase capenga, e uma classificação para as quartas-de-final no W.O. Derrotas definitivas para encerrar o ciclo vitorioso de Muricy no Morumbi. Quase um anagrama. Certamente, a casa do treinador, ex-jogador da base, prata e fruto de tudo de ótimo que tem feito o São Paulo nos últimos 40 anos.

Mas tem hora para tudo. Sobretudo no futebol brasileiro. Mestre Felipão ensina há anos: treinador no Brasil tem prazo de validade. Para ele e para o clube. “Quando os jogadores aprendem nossos truques, as horas em que ficamos bravos de mentirinha, é hora de sair”. Talvez fosse realmente o momento. Ainda mais porque Muricy não tem a capacidade de Felipão de desanuviar o vestiário. Falta ao ex-tricolor o cafuné que tão bem sabe fazer Scolari. Muricy, como ele mesmo diz, não tem “conversinha”. Em determinados momentos, para determinados casos, o papo é mais que essencial. Essa DR (discussão de relacionamento) é básica. Não teve. Agora, não tem mais papo.

Os não poucos detratores de Muricy têm razão quando dizem que, em 2009, ele tinha elenco para não precisa improvisar, para achar logo uma formação, para tentar ganhar tudo que disputasse. Mas, na boa, quem consegue ser tetra brasileiro? E com um elenco, sim, mais forte – mas não uma seleção. Até porque, com a queda de rendimento de alguns como Hernanes e Jorge Wágner, e com a contusão de Rogério Ceni (por melhor que seja Denis), não há técnico que dê jeito.

Mas não teve Muricy mais tempo para treinar que qualquer outro (pelo W.O. do Chivas?). Sim. E ele sabe mexer e mudar o time com treino… Ou sabia. E aí entra a participação da diretoria ao encerrar o ciclo de 139 vitórias, 67 empates e 46 derrotas, com ótimo aproveitamento de 64% em 252 jogos. O desgaste era óbvio, desgastado até nas arquibancadas quase sempre fieis ao treinador.



Culpa do Muricy? Culpa do elenco? Culpa da direção? Culpa do Cruzeiro? Culpa do Corinthians? Culpa do Inter que disparou? Culpa de Cotia “sub-aproveitada”? Culpa dos reforços de 2009? Culpa das pretensas estrelas do elenco? Culpa de Hernanes? Culpa do tornozelo de Rogério? Culpa do Leco? Culpa dos atacantes que reclamam? Culpa de Jorge Wágner? Culpa de Aislan que não tem chance? Culpa de Dunga por chamar Miranda?

De todos eles um pouco. De alguns mais. Mas, mais que tudo, culpa do tempo que fratura, que fatura, que fritura. Num ambiente de tanta pressão, de tanta paixão, a queda é tão rápida quanto a ascensão.

Eu, aqui de fora, ainda tentaria manter Muricy até dezembro (para conversar depois). Eles, lá dentro, os diretores, sacam coisas que não vemos, que não ouvimos, que não sentimos. Talvez tenham mesmo razão de acabar com algo que o tempo terminou. Algo que o São Paulo não fazia desde 2003, quando demitiu Oswaldo de Oliveira. Desde então, troca de treinador só por saída dele - a dupla Roberto Rojas e Milton Cruz sabia que não permaneceria ao final daquela temporada, quando foi substituída por Cuca.

Mas, se o tratamento de choque é esse, o novo treinador que chegue com carta branca para dar cartão vermelho para quem bem entender no atual elenco. Não acho que tenha muita gente que tenha tentado derrubar Muricy. Mas, certamente, tem quem adorou. E quem gostou, esse precisa ser marcado a ferro e fogo. Ou levado direto para a fogueira. Das vaidades.

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