1 de junho de 2009

A Copa de 2014 e a política

Acabou a farsa - JUCA KFOURI

Fez-se de conta que é a Fifa quem escolhe as cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 e não a dona CBF

O PRESIDENTE da CBF acredita que vive num país de néscios, razão pela qual passou meses repetindo que a Fifa é quem escolhe as cidades-sede da Copa do Mundo.

Verdade que há ex-jornalista em atividade que repete a falácia na TV, apesar de saber que o formal não existe no futebol, só existe o informal e a politicagem.

Mas vale saudar a escolha de quatro cidades do Nordeste, região que mais tem a ganhar com a Copa.

E lamentar a escolha de Cuiabá, no Mato Grosso do governador "motosserra de ouro", título dado a Blairo Maggi pelo Greenpeace, em homenagem ao maior produtor de soja do mundo e um dos maiores desmatadores do país.


Para uma Copa que se pretende ecológica, nada menos apropriado, embora Maggi tenha bem mais de um milhão de razões para influenciar decisões no mundo do futebol.

Tão natural como a escolha de Manaus para representar a espoliada Amazônia, apesar de Belém ter mais tradição futebolística, teria sido a de Campo Grande para mostrar as belezas do Pantanal.

Mas, de tudo, o que mais salta aos olhos é a indefinição sobre quem fará a abertura da Copa.

Claro está que Ricardo Teixeira esperará quanto tempo puder para se definir entre São Paulo e Minas Gerais, ou melhor, entre José Serra e Aécio Neves, além de guardar Brasília como uma terceira hipótese, mais para constar e disfarçar o que está, de fato, em jogo.

Não fosse a dúvida sobre qual dos dois será o candidato tucano à sucessão de Lula e o cartola já teria se resolvido pelo ungido, embora seu coração penda claramente para Neves, seu amigo e mais parecido com o yuppie Fernando Collor -até pelo silêncio que impõe à imprensa mineira, como se fosse a alagoana-, a quem o ex-genro de João Havelange chamava de "meu presidente".

Se ele pudesse ver José Serra pelas costas já estaria vendo, também pela presença de José Luís Portella no governo paulista, alguém que Teixeira desgosta tanto que ameaçou não entrar na cerimônia de lançamento do Museu do Futebol, no Pacaembu, quando soube da presença do atual secretário dos Transportes Metropolitanos no local.

Portella, lembremos, foi o arquiteto do Estatuto do Torcedor.

A fragilidade do primeiro projeto de reforma do Morumbi foi a senha para justificar a dúvida, embora até o mais ignorante dos cartolas da Fifa saiba que São Paulo é a principal cidade do país, palco óbvio, ao menos, para a abertura da Copa.

Que o Mineirão é mais agradável que o Morumbi ninguém pode negar.

Só que como nada justifica a construção de uma arena para a Copa em São Paulo, a não ser a ganância dos de sempre, a festa inaugural tem de ser mesmo na casa tricolor.

De resto, é bom dizer que orgulha trabalhar num jornal que tenha feito o editorial que esta Folha fez, no sábado, sobre a miséria de nosso futebol.

E tenha dado a cobertura que deu, ontem, sobre a escolha das sedes, revelando quem é quem na Fifa e suas folhas corridas.

Em vez da celebração acrítica que cabe aos publicitários e aos donos da bola, o dedo nas feridas.

E não porque a CBF discrimina a Folha, mas porque o jornal não bajula a CBF para ter furos.

Nenhum comentário: